domingo, 7 de setembro de 2014

ACRE: DEBATE POLÍTICO DO JURUÁ

O que deveria ser um espaço de oportunidade para apresentação de propostas em relação ao futuro e o desenvolvimento do Acre pelos candidatos que se opõem à atual administração no Estado, a realização do primeiro debate ao vivo entre os quatro postulantes ao cargo de governador nas próximas eleições, transmitido pela Rádio e TV Juruá, em Cruzeiro do Sul, na tarde desta sexta-feira 30, foi transformado num palco de agressões contra o governador Tião Viana, candidato à reeleição pela Frente Popular do Acre. As ruas das imediações da sede da emissora em Cruzeiro do Sul foram tomadas por militantes dos partidos e coligações representadas pelos candidatos em debate. 
Tião Viana saiu vencedor do debate porque, durante duras horas do programa, conseguiu apresentar as realizações de Governo e as propostas que pretende para um segundo mandato enquanto os principais candidatos da oposição, Márcio Bittar, da coligação “Por um Acre Melhor”, e Tião Bocalom, da “Produzir para Empregar”, preferiram o ataque com acusações e leviandades. 

O candidato do PSOL, Antônio Rocha, foi o mais cortês em relação a Tião Viana, mesmo deixando claro sua oposição ao governo tanto a nível local como nacional. “É possível fazer oposição sem agressão”, avaliou. Ao final do debate, o candidato Tião Bocalom revelou um ato de traição ao seu candidato ao Senado, o advogado Roberto Duarte: de caso pensado, pediu votos para o candidato ao Senado Gladson Cameli, da coligação de Márcio Bittar.
O debate teve um momento de absoluta saia justa para o candidato Márcio Bittar, quando este falou sobre corrupção no Estado e o comentário recaiu sobre o candidato do PSOL. Antônio Rocha disse que, no Acre, não há que se falar de corrupção sem mencionar aquele que, em sua opinião, foi o maior escândalo da história do Estado, o da conta fantasma “Flávio Nogueira”.
A conta foi operada no Banco do Brasil durante o governo Flaviano Melo (1987 a 1990), que hoje é deputado federal e candidato à reeleição pela coligação de Márcio Bittar, e consistia nos depósitos do dinheiro público em operações financeiras que rendiam até 80 por cento de lucro ao mês, em nome de Flávio Nogueira, um cliente inexistente do Banco, uma pessoa que não existia, para a qual era utilizado um número de CPF falso.
Investigações sobre o escândalo revelaram posteriormente que Flávio é um dos sobrenomes de Flaviano Flávio Batista de Melo, então governador, e Nogueira é o sobrenome do então secretário de Fazenda, Deusdete Nogueira. Consta que os lucros auferidos irregularmente eram divididos entre o então governador e seus principais secretários, entre eles o então chefe do gabinete civil do Governo, o engenheiro Mauro Miguel Bittar, irmão mais velho do candidato Márcio Bittar.
O candidato do PSDB ficou visivelmente constrangido com a observação de Antônio Rocha. Tião Viana desafiou os candidatos a provarem o que diziam em relação às denúncias de corrupção e acrescentou que a chamada Operação G-7, na qual eles se baseiam para acusar o governo, depois de mais de um ano de investigação, ainda não apresentou provas contra as pessoas que foram acusadas e presas pela Polícia Federal em maio de 2013.

“Oposição não tem moral para falar de estradas porque até a Transamazônica deixou destruir”

Outro momento duro do debate ocorreu quando Tião Viana respondeu a Tião Bocalom sobre um possível endividamento do Estado. Tião Viana disse que o candidato da coligação “Produzir para Empregar” desconhece de economia e finanças públicas. “Não dar para debater com alguém que não conhece sequer o Programa de Ajuste Fiscal”, disse Tião Viana, lembrando que o programa foi concebido pelo governo do PSDB, à época de Fernando Henrique Cardoso, e que Tião Bocalom ou Márcio Bittar nunca ouviram falar. “Eu prometo que, saindo daqui, vou providenciar o envio do programa aos senhores, por consideração, porque entendo que não se pode querer governar um Estado sem estudar o básico. Para haver um debate democrático, é necessário ter conteúdo. Chega de demagogia”, acrescentou Tião Viana. Tião Bocalom, que levantara o tema, limitou-se a rir.
Outro momento duro do debate ocorreu quando Tião Bocalom, com o apoio de Márcio Bittar, criticou as obras da BR-364, que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul. O governador e candidato à reeleição falou da importância da rodovia para os vales do Acre e do Juruá e criticou os candidatos de oposição porque, segundo ele, são eles e seus partidos que estão por trás das denúncias em relação à estrada, buscando a paralisação das obras. “Eu pediria aos senhores que me ajudem a buscar em Brasília os meios para concluirmos logo esta rodovia tão importante para a economia e para as relações sociais dos vales do Acre e do Juruá. Hoje, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos para a realização das obras, uma pessoa toma café em Rio Branco e almoça em Cruzeiro do Sul. Pode almoçar em Cruzeiro do Sul e à noite jantar com sua família em Rio Branco. As mães do Acre e do Juruá já não vivem apartadas de seus filhos graças à nossa luta, do Jorge Viana, do Binho Marques e do nosso Governo para realizarmos uma obra que começou ainda no governo do presidente Juscelino Kubistchek, que viveu alguns avanços no governo do saudoso Orleir Cameli e que só foi levada adiante sob os nossos governos”, disse Tião Viana.
Para o governador, Márcio Bittar e Tião Bocalom não têm moral para falar de estradas porque os partidos que eles representam e que governam o Estado do Amazonas deixou destruir, por exemplo, a rodovia que ligava Porto Velho, em Rondônia, a Manaus, a Transamazônica. “Está lá, coberta de mato e intrafegável. Se fosse fácil fazer e manter estrada na Amazônia, eles não teriam abandonado a Transamazônica”, disse.

“Debater, para mim, não é mentir nem agredir adversários”

O governador reagiu às agressões com argumentos e mostrando as falhas dos estados governados pelos partidos representados por Márcio Bittar e Tião Bocalom. Em relação às críticas aos baixos salários pagos a professores e policiais, como acusaram o dois candidatos de oposição, Tião Viana disse que o Acre paga melhor seus profissionais que o Paraná e São Paulo. “Ainda não temos os salários ideais, mas pagamos melhor os nossos policiais militares e professores que os estados ricos governados pelos partidos dos senhores”, disse Tião Viana. “São Paulo paga o pior salário de médico do país”, acrescentou.
Às críticas de Tião Bocalom e Márcio Bittar sobre violência, alegando que o Estado perdeu a guerra para os bandidos, Tião Viana mostrou índices revelando que o Acre é entre os membros da Federação que respostas mais rápidas oferece em relação a crimes contra a vida e contra o patrimônio, e o que mais prende seus deli quentes. “Infelizmente, vivemos numa fronteira de países produtores de droga e a luta é grande contra um problema de natureza gigantesca. Mas nós estamos lutando. Os candidatos de oposição, que não estudam e não conhecem o Acre, não sabem que em Porto Walter, aqui mesmo no Juruá, não há crimes de homicídio desde 2012”, disse o governador.
Tião Viana se despediu do debate no Juruá elogiando a iniciativa da emissora promotora do evento e disse que a oposição não se recicla e que há 16 anos repete os mesmos chavões e acusações, sem observar as transformações que o Estado viveu. “Eu quero, daqui por diante, participar de debates sem ódio, sem agressões. Quero construir um segundo mandato de mãos dadas com a nossa gente, ouvindo, dialogando e aprendendo. Um mandato de união, tão bem simbolizada por esta ponte que construímos aqui no Vale do Juruá. Debater política, para mim, não é mentir, não e agredir…”, disse.
Por Tião Maia

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